segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A Cadeia que Amamos

domingo 5\9:
-oi
-oi, td bem?
-td bem, e vc?
-td certo, tá sumido.
-tô mesmo, é q tô trabalhando, então não tenho mais muito tempo pra ficar aqui e quando tenho tempo não tenho energia rsrs
-legal vc está trabalhando, não encontro emprego...
-é tá difícil, mas vc consegue. tô morrendo de saudade
-eu tbm, faz tanto que a gente não se vê
-é verdade, eu folgo nos domingos, podemos sair um domingo desses
-legal, podemos marcar sim, que tal irmos ao shopping?
-maneiro, depois vemos direito, tenho que sair, tô cansadão
-bj, não some hein
-bj, pode deixar.

domingo 12\9:
-oi
-olá
-e aí ainda tá trabalhando?
-sim, tô sim, e vc? 
-ainda não, mas tô procurando.
-isso não desiste, vou sair, vou dormir porque amanhã vai ser pesado
-ok, vai lá. não esquece que precisamos marcar pra beber alguma coisa
-não esqueço, e começo do mês que vem a gente vai... quem sabe.
-é, vamos sim, até
-até

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Esta é a cadeia em que vivemos sem sentir,
Esta é a algema que usamos sem notar,
Esta é a sucessão que temos que experienciar,
Esta é a cordilheira que experimentamos e nos perdemos,
Esta é a serrania em que passamos,
Esta é a ligação com o vazio que criamos,
Este é o xadrez que estamos sem constatar,
Este é o espinhaço em que andamos,
Este é o laço cego em que confiamos a flexibilidade,
Este é o cárcere em que mendigamos,
Este é somente o fim do caminho, o fim que não reconhecemos.
A morte que amamos.

domingo, 8 de setembro de 2013

O Desfile do Dia da Independência

   Esse é um relado fictício de um garoto que foi ao desfile de 7 de Setembro de 2013 no Rio de Janeiro:
   Tenho 8 anos e ontem fui com meu avô no desfile pra comemorar o Dia da Independência do Brasil, meu avô era soldado e foi até para a guerra uma vez, mas agora ele não vai mais porque está velho. Ele me disse que antigamente desfilava também, com roupa de soldado e tudo, quando eu crescer quero ser soldado igual a ele para defender meu país. Tá muito calor aqui na arquibancada e estamos muito longe do desfile, nem dá pra ver direito... Mas estou comemorando esse dia que é muito importante. Meu avô disse que a água ali custa 3 vezes mais do que nos outros lugares.
   Uns moços de preto, com máscaras entraram no desfile, minha professora disse que eles são baderneiros, mas as pessoas bateram palmas quando eles entraram. Meu avô disse que não podia aplaudir porque eles só quebram as coisas, mas eles não estavam quebrando nada, eles só estavam xingando, falaram "Ei, Cabral, Vai..." o resto é feio e eu não posso falar. Perguntei a vovô porque eles estavam falando aquilo, porque a professora disse que Cabral já tinha morrido a muito tempo, meu avô disse que era outro Cabral, o governador, ele estava assistindo o desfile também.
   Do nada teve um estouro muito alto, eu vi, foi um policial que disparou na minha direção uma bala gigante que soltava fumaça, quase pegou em mim, a fumaça ardia muito, meu rosto, meus olhos parecia que tinha fogo, eu tava tossindo tanto que quase vomitei, comecei a chorar. Meu avô pegou minha mão e correu, ele não pode correr porque tem problema de coração, e a gente não tava respirando direito. Vovô caiu no meio da rua, parecia que morreu, meu pai disse que a polícia ajuda a gente, eu tava gritando mais um policial pulou por cima do meu avô e começou a bater no cara que tava com o rosto tampado, a polícia fez certo porque quem cobre o rosto é bandido, bandido mata as pessoas, mas acho que aqueles que estavam ali não eram bandidos porque não faziam essas coisas.
   Um outro homem que parecia bandido pegou vovô no colo e uma menina com uma máscara igual a do meu irmão pegou minha mão, meu irmão teve que sair de casa porque meu pai achou essa máscara na mochila dele, eles levaram a gente pra uma rua que não tinha pessoas correndo. Eles passaram um negócio no meu rosto e parou de arder, no meu avô também, mas quando meu avô acordou ele brigou com o moço e com a menina mascarada, disse para eles saírem da frente se não ele matava eles, tentei falar com vovô que eles ajudaram a gente, mas ele disse que a culpa de tudo o que aconteceu era deles, disse que foi a polícia que jogou a bomba na gente e deu tiro e choque nas pessoas, meu avô disse que se eu pensar assim eu vou virar bandido, que eu não posso me misturar com aquela gente. Eu não quero virar bandido, mas agora eu também não quero ser polícia e nem soldado porque eles matam as pessoas.
   De noite um homem da polícia disse na televisão que a polícia só atacou os vândalos, é mentira dele, eu e meu avô não somos vândalos e nem as pessoas que estavam assistindo o desfile com a gente, o moço da TV disse que a polícia dispersou os manifestantes depois que as pessoas foram embora, não é verdade, ele disse que a polícia agiu bem e está de parabéns, eles quase mataram o meu avô. Falei isso com o papai e ele disse para ficar quieto, não sei porque, amanhã ia falar isso para meu amigo Lucas e pra minha tia, mas meu avô disse que minha escola é de polícia e eu não posso falar isso se não me deixa de castigo, eu vou falar só pro Lucas... ele não vai contar pra professora e nem pro policial da escola.